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Eu gostaria de lhes dar algo velho, só pra enrolar, fingindo que me importo. Mas o que é velho é velho porque eu já fiz, quando era quem era lá atrás no tempo – inaceitável pra mim, que não tenho lá uma autoestima retrô (ou seja: me importo). Hoje eu sou melhor, faço melhor, e amanhã bem mais o serei, o farei, e assim por diante.

Todos os seus presentes te esperam no (nosso) futuro.

(leiam as tags)

Culinária da Dignidade – Brigadeiro de panela

Porque as vezes você nem está com fome, mas está entediado e descobre restos de chocolate em pó e um leite condensado na cozinha. Então, chega a hora de partir o coração de granolinhas da vida e demais preocupado com a boa forma física e fazer brigadeiro. No meu caso, particular, decidi variar um pouco da boa e velha receita de brigadeiro convencional porque…. tenho que admitir: Esse eu nunca acerto a fazer. Então, decidi salvar o resto de minhaaaa

~Culinária da Dignidade~

com essa maravilhosa receita deeee

Brigadeiro mole, ou de panela

(a foto é velha mas o orgulho é imortal)


Você vai precisar de: 
  • Chocolate em pó de sua marca favorita ou da mais barata;
  • Uma lata ou caixa de leite condensado escolhido com o mesmo critério mencionado acima;
  • Uma caixa ou lata de creme e leite e dessa vez nem venha, creme de leite é barato;
  • Manteiga ou margarina porque você não sabe a diferença mesmo;
  • Desespero;
  • Pressa;
  • Falta de memória;
  • Confiança e auto estima;
  • Identidade

Como não falhar: 


Uma das vantagens do brigadeiro é sua facilidade de preparo. Logo de uma vez você já mistura a maioria dos ingredientes:  o leite condensado, todo, o chocolate, 
 – Mas quantas colheres de chocolate? 
 Medir é limitar, meu filho, e nossas almas são infinitas. 
Mas…
Pssssiuuu. e a falta de memória e a manteiga, misturados da seguinte maneira: Você esquece de colocar a manteiga. 
Ligue o fogo baixo e mexa a mistura com desespero até que ela fique uniforme e em ponto de brigadeiro mole, o que significa que é um pouco antes do ponto do brigadeiro normal, o que significa que eu não faço a menor idéia porque já foi dada ao leitor a informação de que eu não sei fazer brigadeiro normal. Especularemos então que é um pouco depois que a mistura começa a desgrudar da panela, quando você já consegue tirar a colher da panela sem que o chocolate caia que nem papinha. 
Deixe a mistura parar de borbulhar e despeje o creme de leite, todo. Misture até ficar uniforme, e perceba que agora o brigadeiro não tem mais tanta cor de brigadeiro assim por causa da adição do creme de leite. Então, percebendo que eu tinha razão o tempo inteiro e que não devemos adicionar limites a nós mesmos, coloque mais chocolate em pó até que o brigadeiro volte a ter a cor apropriada. 
Utilize a pressa para não esperar esfriar normalmente e colocar na geladeira. Diz a lenda que não devemos colocar brigadeiro mole na geladeira porque ele ficará com uma textura borrachuda, mas você é uma pessoa com confiança sem si mesmo, você é único, você é especial, se precisar você até repete um mantra de auto ajuda na frente do espelho (para maiores informações: A revista feminina mais próxima a você) e coloque o negócio na geladeira mesmo assim!

Se você fizer tudo certo, sua mãe te elogiará bastante e sua receita será um sucesso. 
– Mas espera! 
O que foi?
E onde colocamos o último ingrediente, a Identidade?
Mas é claro: Na lição de moral no final da receita, o recheio de aprendizado!

Recheio de aprendizado: 

Todos nós somos únicos no mundo, e nessa vida cheia de erros e acertos, não precisamos nos moldar para nos encaixarmos nas mesmas regras do resto. Errar é humano e nem sempre é fatal, e as vezes, aprender a viver contornando esses enganos é melhor do que se corrigir tarde demais. Eu, por exemplo, apenas no momento de escrever esse post percebi que provavelmente eu nunca acertei a fazer um brigadeiro que não saísse como um quebra queixo porque eu nunca coloquei a manteiga. Mas vejam bem,meu primeiro brigadeiro de panela foi uma delícia. Quando fui fazê-lo pela terceira vez, depois de prometê-lo aos meus amigos, coloquei a manteiga e ele virou um mingau – apesar de um mingau bem elogiado. A partir de agora, quero que todos saibam que o melhor que podemos fazer na vida é ter personalidade. Amén. 

Desejo um bom diabetes a todos vocês! 

Sobre a modernidade do papel e Jane Eyre

Esse é o caderno bonito e surpreendentemente 
barato que comprei para usar de diário. E o preto
é o caderno de brinde que eu ganhei faz anos
que estou usando realmente por pena de usar 
o novo, porque sou dessas.

Estou de férias. O que você faz quando está de férias? Produz algo? Porque eu não, eu não faço é nada – ou quase nada. Para provar que eu sou capaz de passar um mês sem entrar em estado vegetativo (porque jogar Candy Crush no Facebook não conta), eu comprei um caderno. É, isso mesmo, comprei um caderno. Pra fazer de diário de novo, bem quarta série style. E daí é que vem parte da justificativa do título da vez. Quem se apavora e se preocupa com o futuro dos livros e da escrita cursiva em face do avanço da tecnologia (eu nem citei nada, mas aposto que você lembrou de alguma coisa) muito provavelmente nunca escreveu um diário na vida depois que saiu da preescola. Hoje em dia qualquer um pode abrir um blog, manter uma pastinha no computador, ou baixar um aplicativo no celular¹, mas você já comparou isso com escrever num papel? Mesmo com toda a paranóia de que alguém pode só abrir o caderno e ler a sua alma a qualquer momento, escrever à mão de madrugada ainda é mais reconfortante do que trancar tudo num aplicativinho do qual só você sabe a senha. Talvez aquela velha máxima de que quem escrever quer ser lido tenha alguma veracidade amarga, no fim das contas…

Metade dessas páginas aí estão ocupadas com todas as  minhas previsões falhas do primeiro livro que andei lendo nas férias: Jane Eyre. Fucking Jane Eyre.

Hora da resenha!
Como diz Heloísa Seixas no prefácio da minha ediçãozinha, esse livro foi feito por alguém que tinha muito tempo livre nas mãos. Publicado em 1847 por Charlotte Brontë, a irmã Brontë com o nome mais fácil de gravar e por isso a que eu jurava que era a de Morro dos Ventos Uivantes, Jane Eyre nos conta a história comovente e muitas vezes medonha e frustrante e confusa da jovem órfã que você nunca ia adivinhar: se chama Jane Eyre!! Conhecemos Jane ainda criança, e a partir daí acompanhamos a sua situação de estranha não bem vista na casa dos únicos parentes ricos que lhe restam e a sua ida, por fim, a uma escola de caridade de órfãs onde sua vida melhora mas não muito, porque algumas pessoas nasceram para penar na vida. Jovem adulta, vamos com ela para a grande e rica residência chamada Thornfield, (“porque os ingleses tem mania de nomear as propriedades?”, se perguntou um dia a garota que mora num prédio com nome. Cercado de prédios com nomes. E que conhece fazendas com nomes.) , onde Jane, em busca de uma vida melhor, embora não tanto no sentido convencional do termo, vai ser a preceptora (professora de rico) de uma garotinha chamada Adéle, a protegida do antipático Mr. Rochester. E aqui se foi metade do livro e nem um quarto de história.
Minha ediçãozinha e meu marcador do Keropi 

paraguaio que amassa as páginas.

E é muita coisa e muita história – quantas vezes eu, como leitora, posso apontar os pontos do livro em que parei e pensei “ei, eu to lendo a história da mesma Jane?”? “Isso não era uma história de romance?”, “Porque estou esperando uma vingança?”, e nas minhas partes favoritas, “OXENTE TO ASSISTINDO SUPERNATURAL?”! E olha que eu nem assisto Supernatural. Mais do que uma personagem ou narradora que nos apresenta o mundo, Jane é uma criaturinha vasta. Emil-ops, Charlotte criou em Jane alguém que muda e continua constante ao mesmo tempo, coisa possível somente aos seres humanos. Muitas vezes eu quis bater em Jane e chamá-la de antifeminista, mas aí 1847 me bateria em troca chamando Jane de feminista. Ela é feiosa, numa época em que pelo visto as personalidades das pessoas estavam estampadas nos traços de seus rostos, e insossa, do tipo que nunca seria imaginada como protagonista de nada por alguém que não tem acesso à sua cabeça. Jane se envolve num romance adorável (quer dizer…) com o também feioso, mas enérgico e carismático, Mr. Rochester. Eu, em 2013, por conta de certas reviravoltas da trama ainda não sei se desisti da idéia de jogar uma cadeira ficcional na cara do Rochester, mas 1847… Provavelmente está confuso quando a isso também. Deve ser admitido que é difícil querer julgar alguém depois que você pensa “E se fosse comigo?” e descobre que suas atitudes não seriam muito diferentes, se não piores. 
E minha condição de estudante de Letras, o que tem a dizer sobre Jane Eyre? Hahaha, que nunca que eu vou me meter em tentar falar sob pespectiva acadêmica de um clássico da literatura inglesa que todo mundo já falou e provavelmente escreveu, tire os cavalos da chuva! Mas esse realmente é o livro de alguém que teve o tempo de uma vida para escrever. As passagens são longas, as falas extensas, e o tempo pode ser desperdiçado. E esse foi um detalhe que me reconfortou ao longo do livro. Nada precisa ser cortado em troca da funcionalidade, se você não quiser. Nem toda a informação jogada no texto precisa ser útil ou recuperada mais tarde, com sua função revelada. Se escrever e parecer interessante, está bom. Além da paciência, a palavra religiosa está por todos os cantos do livro. Sério, quase virei cristã, só que não. A leitura de Jane Eyre foi para mim um lembrete da mudança de mentalidade ao longo tempo, que eu não sabia que estava e nem se estava precisando. E que a mudança do mundo não transforma um livro numa simples peça histórica. O mundo de Jane Eyre não é como o meu. Eu não sou Jane Eyre e não conheço nenhum Rochester. Eu não quero o que Jane Eyre quer e mesmo assim, a sua história de sobrevivência e amadurecimento emocional marca. Obrigada, Jane. 

Culinária da Dignidade – Penne ao alho e óleo com frango desfiado

Olá, meus leitores! Nunca faço posts de comemoração de datas especiais tipo ano novo porque me sinto clichê, então contem essas três linhas como a síntese de todos os meus desejos de boas coisas no ano que agora segue (mas só tá valendo se comentarem no blog, se não apodreçam, seus ingratos.)

Como poucos sabem, desde o dia 27 de Dezembro passado estou só em casa, já que minha família toda foi para o Rio de Janeiro na tradicional visita de fim de ano ao meu irmão e eu, dessa vez, resolvi variar. Mas ficar só em casa por 11 dias (eles só voltam dia 7, acho eu) não é só festa e dormir a hora que quiser – para um adulto responsável, significa ter uma casa inteira sobre sua responsabilidade, o que inclui a manutenção da limpeza, das plantas que precisam de água, do gato e, é claro, da sua própria alimentação. De início é tudo muito fácil, mas aí a comida congelada que você estocou no congelador vai acabando… o dinheiro pra comprar mais vai faltando… e a culpa por ir no Mc Donald’s vai batendo. Finalmente, chega a hora em que você percebe que vai ter que cozinhar. No meu caso, a hora chegou com uma ligação de meus pais:

“E então, o que você anda comendo esses dias?” – Disse meu pai.

“Comida congelada, mas o último pacote que estava na geladeira acabou…” – Eu mencionei.

“Então amanhã você vai almoçar no restaurante aí de perto?” – Ele perguntou.

“Não, acho que amanhã eu faço um macarrão.” – Eu disse.

E então, meu próprio pai de sangue e criação me disse:

“Você não vai acertar, vá comer fora, vá.”

Depois dessa pequena introdução, é com a missão de restaurar meu orgulho ferido que eu inauguro a nova seção do blog:

Culinária da Dignidade

E o prato do dia ééééééé:

Penne ao alho e óleo com frango desfiado

Realçando a beleza do produto com uns filtros. Adoro.
Você vai precisar de: 

  • Uma quantidade abstrata de penne;
  • Um pedaço daquele frango cozido que deixaram na sua geladeira para você não morrer;
  • Dois quartos de cebola, mas que não chegue a ser metade de uma, porque aí é muito;
  • Um resto de dente de alho, ou a gosto, ou o quanto você estiver disposto a desperdiçar;
  • Óleo de soja, ou o que tiver na sua casa;
  • Sal a gosto, porque nunca vai chegar na quantidade que você quer mesmo;
  • Uma pitada de paranóia natureba para impedir a praticidade;
  • Meio litro de falta de fé de seu pai, para te desafiar.


Como proceder:

Primeiro, coloque água numa panela média de fazer macarrão – encha até começar a se preocupar com o desperdício porque você está fazendo comida pra uma pessoa, e não para três como está acostumado a ver. Coloque no fogo. 
Enquanto a água ferve, pegue o frango já cozido e temperado e desfie com as mãos. Se se pegar pensando que seria mais fácil e menos nojento fazer arroz e colocar o frango no microondas, tome um gole da falta de fé.

Jogue um pedacinho do frango para seu gato para que ele te deixe em paz. 
Se você for tão lerdo quanto eu, parabéns, daqui que você termine de desfiar o frango a água já está fervendo. Coloque óleo e sal na água, numa quantidade que não te deixe preocupado com um risco de enfarte e jogue a quantidade abstrata de penne também. Agora, o que é uma quantidade abstrata de penne, você se pergunta? Muito simples:
  • O quanto de Penne você acha que você come? Jogue na panela. 

Tampe a panela até a água ferver e transbordar, depois destampe e mexa um pouco o macarrão para que ele não grude no fundo da panela, esse é um ciclo vicioso que você repetirá durante todo o processo. 

A essa altura, o seu gato ainda não achou o pedaço de frango que você jogou pra ele. Cuidado para não pisar nisso. 
Enquanto  o macarrão cozinha, é hora de continuar a preparar o tempero. Aqui, utilizaremos a paranóia natureba. Como? Simples assim: Tem um daqueles pacotes de molho de tomate pronto na sua geladeira. Junto do óleo, no seu armário da cozinha, provavelmente também terá um daqueles temperinhos à base de alho e sal. Você poderia muito bem usar o molho, o tempero e o frango para criar um molhinho mais rápido e personalizado para seu penne, mas você o faz? Não! na hora você se preocupa com os sódios e conservantes que essas coisas podem ter e decide fazer tudo o mais naturalmente possível! Então, prosseguimos com o tempero original de seu penne: 
Corte a cebola em pedacinhos. Para dar um gosto especial, faça tudo se sentindo uma maníaca obsessiva e se amaldiçoando a cada segundo pelo cheiro de cebola que ficará nos seus dedos pelos próximos 03 (três) dias. Não esqueça do ciclo vicioso com a tampa da panela!
A essa altura, como você é lerdo como eu, o macarrão estará pronto (Dica: A cada repetição do ciclo, pegue um penne e morda um pouquinho para ver se já está bom. Jogue o meio penne mordido de volta na panela porque lembre-se: Isso é seu almoço e possivelmente jantar. Sem desperdícios!)! 
Numa peneira, ou naquela panela com furinhos que deve ter no seu armário, jogue o macarrão e deixe a água escorrer. 
Aponte para seu gato onde está o pedaço do frango que você jogou. A essa altura, ele merece. Agora, vá preparar o seu molho!
Numa frigideira grande ou numa panela que pareça uma frigideira mas que você não saiba exatamente o que é, derrame óleo numa quantidade suficiente para que você não se preocupe com a possibilidade do óleo evaporar todo durante o cozimento. Jogue a cebola picada com ódio e o frango já cozido e desfiado. Mexa bem com bastante medo de se queimar e lembre-se: Isso não era um penne ao alho e óleo? 
  • Rápido! Pegue o dente de alho na geladeira, corte o quanto puder antes da panela começar a salpicar óleo e jogue o alho na mistura! 

Agora sim, mexa mais um pouco até a cebola dourar. Como essas coisas são rápidas, logo logo você notará algumas cebolas já queimadas. Então vai ser a hora de jogar o penne e refogar! Jogue o penne, mexa tudo até pelo menos um penne cair da panela e desligue o fogão. 

Coloque seu Penne ao (pouco) alho e (mais) óleo (do que você planejava) com frango desfiado (que só ficou bom porque já estava pronto mesmo) numa travessa bonitinha, tire uma foto para mostrar para todos que não acreditaram e aproveite! 
Se você fez tudo certo, sua refeição deve ficar misteriosamente com um gosto semelhante à caranguejo!
Dica pós-receita: Para tirar o cheiro de cebola das mãos, deixe todas as peças de metal inox (se é Tramontina é inox) para lavar por último e as lave esfregando bem as mãos nelas. Depois lave as mãos com sal. E depois, se tiver, com um pouco de limão. Não funciona, mas pelo menos você tentou.

Bernice corta o cabelo

Esta é, basicamente, a história do conflito entre uma recalcada e uma vagabunda que acham que a única coisa que vale no mundo é ter a atenção de um bando de garotos adolescentes caipiras. Esse conto foi escrito em 1922 e se passa, novamente, num círculo social de classe alta – mas não tão milionário quanto o do pessoal do Diamante do tamanho do Ritz.

Um dos focos desse conto é a dança: Logo de cara Fitzgerald joga a gente num baile, onde os velhos (ou melhor, as velhas) se divertem em condenar os jovens dançantes e os jovens se divertem sendo dançantes. O primeiro personagem a nos ser apresentado é Warren, um caipir-digo, jovem de dezenove anos apaixonado por Marjorie, a vagabunda já mencionada.

Sinal de vagabundice no caráter de Marjorie número 1:  Já é dito logo de cara que Marjorie usa e abusa da boa vontade de Warren do jeito que quer, e páginas mais tarde ela comprova o sinal número 1 fazendo Warren ir dançar com a sua prima que está visitando a cidade durante as férias escolares, Bernice A Recalcada.

Acontece que Bernice é chatérrima, e chatisse aqui é medida como a sua incapacidade de variar de parceiros nos bailes (Marjorie, é claro, dança com todo mundo). Mais tarde no conto e naquela mesma noite (acho) Bernice ganha uma boa noção de o quanto ela é chata quando passa pela porta do quarto da sua tia, a mãe de Marjorie, e se depara com o

Sinal de vagabundice no caráter de Marjorie número 2: Ela ouve sem querer querendo uma conversa entre Marjorie e a mãe em que Marjorie reclama sobre como Bernice é chata e ninguém gosta dela nas festas, e oh-meu-deus o que há de mais importante nessa vida do que chamar atenção dos outros (e com outros digo garotos) nas festas? Ugh, Bernice tinha mesmo é que voltar pra casa, aquela mestiça (sério).

Pois bem. Bernice vai pra cama com essa na cabeça, e de manhã, como ela ainda não tem o veneno no coração, ela confronta Marjorie sobre tudo que ouviu na noite anterior, e…

Sinal de vagabundice no caráter de Marjorie número 3:  Pelo menos a gente pode dizer que Marjorie é uma vagabunda corajosa, porque ela não retira nada do que falou e diz que Bernice tem mais é que se mandar mesmo. Bernice não vai por um motivo que na adolescência (e até mesmo depois) pega mesmo: Como é que ela ia explicar pros pais que voltou mais cedo das férias porque tomou um fora social? Ela então aceita ficar e elas decidem que Marjorie a ensinaria como ser uma vagabun-digo, como ser ousada e sagaz e moderna e consequentemente popular.

Uma dessas “dicas” é que Bernice podia muito bem dizer que ia cortar o cabelo¹ – e lembrem-se, estamos na década de 20 dos E.U.A, onde mulher de cabelo curto era o escândalo, moderno-até-demais. Bernice aceita e passar a, em vez de falar só do tempo e de dinheiro e de coisas chatas, espalhar pra todo mundo que vai cortar o cabelo e chamar todo mundo pra ver até o final das férias. E sabe o que mais?

Bernice se dá bem na nova vida de popularidade. Melhor que Marjorie, ela pega pra ela até o Warren, aquele Warren do início do conto (hahahaha se fode aê Marjorie)! E é aqui que vemos o….

Marjorie

Sinal de vagabundice no caráter de Marjorie número 4: Marjorie fica com ciuminhos da “nova” Bernice que sai por aí cantando Baba Baby (não) pra todo mundo, e decide pressionar Bernice a cumprir sua palavra e cortar mesmo o cabelo. Bernice, que ainda não tem tanto veneno no coração, cai nessa. E fica feia pra caramba, todo mundo detesta, e aqui nesse mundinho do conto não tinha essa de ser feio mas estar na moda – ela perde toooooda a popularidade (e a aprovação dos mais velhos porque ugh, cortou o cabelo!)

E o que Bernice faz, agora que chegamos ao final do conto? Dica: Leia!

Bernice no final do conto.

Uma coisa interessante que eu gostaria de apontar finalizando essa resenha é: Esse conto é de 1922, desde então o mundo mudou muito, mas quem é que lendo um conto desse em 2012 pode me dizer que nunca viu uma Marjorie ou uma Bernice na vida? Com esses dois contos Fitzgerald nos mostra que em alguns aspectos o mundo nem mudou tanto assim. E ainda falta um.

¹: O nome dela é Bernice e ela corta o cabelo. Curiosidade: http://en.wikipedia.org/wiki/Berenice_II

O exagero do tamanho do Ritz

Vamos lá, esse não vai ser um post de contos nem de poemas nem de nenhuma criação minha – não há tempo para outras criações quando se está atrasada no NaNoWriMo. Para compensar, a partir deste farei três posts seguidos (um em cada semana, acho) resenhando os três contos do livro O diamante do tamanho do Ritz e outros contos, de Francis Scott Fitzgerald.
Estou lendo Fitzgerald (porque até hoje eu lia o nome dele como Fitzergard?) e outro dia baixei todos os filmes do Hitchcock. Me sinto insuportavelmente cult. em minha defesa, eu queria algo pequeno para ler e achei o livrinho na estante dos meus pais. Agora, à resenha propriamente dita:

Dele, eu só tenho esse livro nas mãos, mas a partir daqui e de uma rápida lida na biografia dele, é fácil notar que vida de rico é o tema da obra de Fitzgerald. Aliás, vida de rico é o tema da vida de Fitzgerald, e O Diamante do tamanho do Ritz não é a exceção. Esse conto é a história do jovem John T. Unger, originário de uma cidadezinha provinciana lá pelas margens do rio Mississipi chamada Hades onde faz calor pra caramba (é, o nome é intencional) que vai estudar no Colégio St. Midas, um colégio de garotos ricos (idem para esse nome daqui). Lá, depois de algumas amizades um tanto quanto parasitas em que John vai e se aproveita da riqueza dos outros rapazes enquanto é infinitamente perguntando sobre o quão quente é Hades, ele conhece uma criaturinha meio distante chamado Percy Washington, e logo eles ficam amigos e John é convidado para passar as férias na casa dos Washington. 
É logo no caminho que o conto começa a tomar ares de filmes trash, e é só ladeira abaixo a partir daí, no melhor sentido de todos, é claro: No trem, Percy se torna comunicativo e conta a John como eles são ricos: o cara coleciona pedras preciosas em vez de selos e diz que a família tem um diamante do tamanho do hotel Ritz. O carro que leva os garotos para os únicos oito quilômetros não topografados dos Estados Unidos tem pedras preciosas nas rodas -e esses são os oito quilômetros não topografados dos Estados Unidos. Um pouco mais tarde na história é contada a história da riqueza dessa família: Descendentes diretos do próprio George Washington, o avô do Percy um dia perseguiu um esquilo montanha acima, e esse esquilo acabou largando no meio do caminho um pedacinho de diamante, que levou o vovô Washington a descobrir que a montanha em que eles estavam era toda feita de diamante – a montanha toda, um diamante só. Ele então fez riqueza e fez de tudo para que não descobrissem o seu segredo, incluindo matar o próprio irmão e construir no topo da montanha uma mansão com a mão de obra de um grupo de escravos alienados que não sabiam que a escravidão tinha acabado – grupo de escravos que se manteve até a época do Percy, a essa altura se comunicando através de um dialeto próprio. Não duvido nada que tenha gente até hoje tentando tirar Fitzgerald da cova para linchar o cadáver dele por causa dos comentários racistas dos personagens desagradáveis do livro. Independente de tais comentários refletirem a opinião do autor ou não. 
Enfim, de volta às loucuras do conto: e aí que quando chega na residência dos Washintgon John vive a paródia dos sonhos de consumo de todos os megalomaníacos do mundo, cercado de um luxo impossível e num estado quase torpe, sendo praticamente carregado da cama para a banheira e comendo em pratos de diamantes trabalhados com esmeraldas. Se você acha que tudo já está louco o suficiente, pegue o conto e leia até o final. O encerramento é, no mínimo, drogado. 
E todo esse exagero combinado um tipo de gente que nem é tão distante de realidade assim é genial. Fecho a resenha com a propaganda: Leiam!

E aproveitem e leiam também o conto da próxima resenha: Bernice corta o cabelo. Depois, acho que farei um post com um apanhado geral dos três contos, mesmo me sentindo uma péssima resenhista. Resenhista é uma palavra que existe, por acaso?

E se ainda tem algum leitor que não desistiu de minha vida, vale dizer que estou no meio das aulas teóricas da auto escola. Que coisa mais mórbida que é a auto escola, hein? Compreendo que isso deve ser parte de uma medida desesperada de conscientizar as pessoas a não fazerem calamidades no trânsito, mas não tem uma maneira de fazer isso sem mostrar tanta tripa humana não? Quando não é vídeo, é foto. Quando não é mídia, é contação de caso que aconteceu-com-um-conhecido-meu. E quando não é mórbido, é chato. Ai de mim se não fosse o NanoWrimo!

Rápida atualização

Para quem ainda não me ouviu reclamar para saber, o prédio ao lado do meu está em reforma. Todo dia de semana desde semana passada então eu sou tirada da cama às 8h da manhã e tenho que fugir de casa feito retirante a menos que queira ser torturada o dia inteiro com o barulho de reforma, algo que me irrita irracionalmente. O lado ruim é que estou sendo arrancada do lar, é claro, mas o lado bom, pois dessa vez estou sendo otimista e vendo um lado bom, é que isso está me ajudando horrores a escrever minha história do Nanowrimo!

Na verdade, essa participação está sendo bastante informal – eu nem piso no fórum deles e estou escrevendo num caderno, já que digitando eu não sei o que é produção. Estimo que já devo ter escrito 3,200 palavras – o que é um fracasso se você considerar que hoje no Facebook os coordenadores do Nanowrimo anunciaram que a meta do dia é 10,000. Mas eu tenho fé e um prédio em obras ao meu lado!

Hoje eu passei o dia num café com ar condicionado que tem perto de casa. Tentei me instalar na Subway, mas lá era cheio de mosquitos, então fui pra esse café. Passei 3 ou 4 horas lá e só consumi um suco de laranja de qualidade mediana! Pensei que seria posta para fora ou obrigada a pagar uma taxa de aluguel de cadeira, mas esse café vive tão vazio que acabou que saí de lá sabendo da vida da garçonete. A ironia é que ela era uma aspirante a estudante de engenharia civil e que “desde pequena” era “apaixonada por construções”!! Quase perguntei a ela se por acaso ela já passou mais de duas horas perto de uma pra testar esse amor, mas achei melhor não. Depois achei que devia ter perguntado mesmo porque depois da cara de ânimo sugado que ela me fez quando eu disse que fazia Letras ela merecia mesmo, mas a gentileza me calou!

De qualquer forma, foi uma experiência interessante -comum, na verdade, mas eu nunca fui boa em puxar conversa com garçons e taxistas e pessoas do meu lado no ônibus, então pra mim foi uma experiência inusitada!

Obs: um velho se achou no direito de me chamar de “coisa linda” na rua hoje. Eu, agora praticante da modalidade “Seja grosseira com imbecis na rua” meti meu dedo do meio na fuça dele (figurativamente falando é claro) e ele ainda ficou espantado e achou ruim! Na hora se converteu de “velho filho da puta descarado” à “velho ditador de bons modos”, mas eu sou diva demais pra ficar ouvindo uma coisa dessas e dei as costas pra ele e segui andando mesmo. Mas tive tempo de ouvir alguém rindo da cara do velho, e pelo visto ele não gostou disso também. Há!

(???)

Resumo Ilustrado da Vida:

Olá, leitores que ainda me restam!

Desde 26 de maio eu não atualizo esse blog. Não é a primeira e juro que será a última vez que abandono um blog de uma maneira dessas, mas por enquanto… o que eu faço com blogs abandonados quando tento recuperar a rotina deles?
Eu mudo o layout e o nome. Bem vindo à Caixa Fantástica, nada como começar de novo para continuar!
Para traduzir melhor como eu me sinto sobre esses recomeços radicais, amanhã publicarei um conto. Poderia muito bem publicar agora, mas ei, eu não atualizo isso desde Maio, tenho que enrolar e gerar post pra ver se recupero o ibope! Por enquanto, aqui vai um resumo ilustrado da minha vida até então. Por sorte, é um grande resumo, já que eu andei fazendo várias coisas – ou melhor, pretendendo fazer várias coisas novas. Nesses tempos de greve eu cheguei a conclusão de que eu não faço muita coisa da vida, e em vez de escrever textos ou poemas melancólicos e provavelmente ruins me remoendo sobre minha própria inutilidade eu decidi me movimentar mais. Eu vou aprender a fazer mais coisas, vou ler mais, vou escrever mais (ha. haha. hahahahhahahahah!), fotografar mais e para não ficar redundante, vamso dizer que vou trabalhar para ser alguém mais interessante. Então, aqui vai o….

Resumo Ilustrado da minha vida até então:




1 – Estou aprendendo a tocar violão:

E sozinha. Ou quase. É que eu achei essa coisinha aqui faz umas semanas lá na casa da vovó. Eu lembro vagamente desse violão, ele foi um presente de minha avó para Gabriel quando ele tinha uns quinze anos, e como ele nunca se interessou muito pelo negócio, minha avó pegou de volta. Não sei se ela ainda sabe tocar, mas que ela sabe dizer só de ouvido se o violão tá afinado ou não (o que é um sufoco pra afinar), ela sabe.
Aprender a tocar violão sozinha é meio que uma batalha, porque cordas novas -depois de quase dez anos sem uso, as cordas tinham que se aposentar, né? – desafinam o tempo todo e eu não sei afinar de ouvido ainda, e não achava um afinador online que prestasse! O jeito era ser parasita e colar nos amigos, mas amigos que tocam violão servem para isso mesmo.
(Obrigada João Vítor, obrigada Danilo!)

E agora, aprender a tocar PELO MENOS uma música sozinha nisso virou uma questão de honra, porque meu pai não bota fé em mim. Minha mãe não bota fé em mim. Minha avó não bota fé em mim! Todos eles acham que eu preciso de aulas, mas eu não quero:

a) Gastar dinheiro.

b) Tomar aulas numa coisa que quero aprender por hobbie. Sabe porque eu sei porque Gabriel não se interessou pelo violão? Porque ele tomou aulas! Na verdade eu não perguntei, mas vou descaradamente manipular os fatos para reforçar minha teoria: Com aula, tudo fica chato, o compromisso de aprender algo por prazer se torna o compromisso de aprender algo porque tem que ir à aula, que logo logo se torna o compromisso de ir porque já faltou demais, que logo sufoca o compromisso inicial – o da satisfação.

c) Imagina o orgulho de dizer que aprendi sozinha!

obs: Jogo uma pedra no primeiro que sugerir que eu aprenda a cantar também.

2 – Vou aprender a dirigir – carro e moto

Há! Sem ilustrações dessa vez, mas farei uma série de posts contando minhas aventuras na auto escola assim que começar. Escolher a opão carro e moto na compra do laudo dessa vez quase valeu a pena ter deixado o laudo anterior vencer (pra quem não sabe ainda, eu deixei o laudo anterior vencer. É. Não me julguem.)! Eu não pretendo ter uma moto a menos que eu saia de Salvador para um lugar que seja civilizado no asfalto, e já estou morrendo de medo de fazer as aulas práticas desde agora, mas essa era uma das coisas que eu não gostaria de passar a minha vida sem fazer!

3 – Estou assistindo:

A única coisa que eu quero recomendar agora é Once Upon a Time pra todo mundo:

Once Upon a Time é um seriado americano meloso que está começando a segunda temporada que é basicamente sobre uma mulher, Emma Swan, que é levada pelo filho que ela deu pra adoção (é) até uma cidade onde segundo o guri, todos os moradores são personagens de contos de fadas  vindos de um universo encantado, amaldiçoados pela Evil Queen a levarem uma vida congelada numa cidade sem memórias pensando que são gente comum, e só a Emma pode quebrar a maldição e fazer todo mundo voltar ao mundo me que beijo de amor verdadeiro é a nova neosaldina!

Essa é Regina, a Rainha Má. E perto dela você não nada.
Obs: Charming é um cuzão.

4 – Li e estou lendo:

No momento, estou lendo Viagem ao Centro da Terra, de Júlio Verne, numa edição tão velha e com ortografia tão desatualizada que encontro direto um “êle” ou “êsse”! Sobre a história, não digo nada, ainda estou bem no início e não quero me arriscar!

Sem falar que comprei esse livro num sebo, tão sujo que tive que limpar com um lenço de papel e o lenço saiu preto!

Terminei de ler recentemente:

(É pra deixar todo mundo com a música na cabeça mesmo)

E finalmente, li Órfãos do Eldorado. Um ótimo livro, que eu li pra uma prova no final desse semstre. O que eu adoro em Letras é que em algumas partes desse curso eu tenho que ler livros para fazer provas em vez de me embasar só na teoria, uhul!
E o que nos leva àààà:

5 – Estou de férias!



Meu semestre 2012.1 acabou só agora! Só tive um mês de aula pós greve, praticamente, mas foi um mês miserável porque voltamos bem no meio do turbilhão de fim de semestre, ufa!

Legal! Isso quer dizer que agora eu terei tempo pra me dedicar ao blog?

NOPE!

Porque nesse novembro eu participarei do NaNoWriMo! Esse site linkado aí propõe a escritores amadores que eles escrevam uma história de pelo menos 100 páginas em um mês. Parece (e é, olha o capacete viking que eles colocam no logo deles) loucura, mas o objetivo é botar o pessoal pra escrever mesmo, sem se perder no planejamento. Logo, tenho esses últimos dias do mês pra atualizar meu blog e planejar minha história e adeus!

(E esse adeus conta como adeus do post também!)

Anúncio de uma vida estagnada

    Eu gostaria de informar a todos que eu tentei, e tentei com todas as minhas forças, mas fracassei. Tenho todo um universo em minha mente e não encontrei nada pra dizer. Na verdade, eu não quero exatamente dizer alguma coisa – estou tão mal que até ando me expressando mal. Eu só quero fazer alguma coisa, colocar algo na existência que sirva de marco, uma prova de que o tempo ainda se move e que eu estou me movendo com ele.

    Quis criar uma história de uma mulher que trocou o grande amor de sua existência por algo melhor e maior – uma vida, mas ela deu um passo e congelou, e já estou com bastante frio para ficar segurando coisas congeladas.

    Então, eu quis fazer um poema. Mas em algum dia que minha memória já afundou e repuxou vezes de mais para poder me dizer exatamente quando, me disseram que poemas são a petrificação de um momento, que o poeta aprisiona uma emoção pela imortalidade. E eu já decidi que não quero nada estático, obrigado.
Existe uma janela, porém. Mas ela ainda não tem parede nem cortina, e a construção de tudo isso é uma história que ainda vai demorar, e eu quero me mover logo. melhor dizendo, eu quero provar que me movi logo. Agora.

    Talvez, e eu penso isso depois de quatro parágrafos de reflexão, a verdade seja que eu no fundo quero dizer alguma coisa, mas nada do que já andei criando tem o formato certo para cobrir a sinceridade. O que eu quero dizer com isso? Para exemplificar bem o meu ponto, eu não deveria nem explicar, mas lá vou eu:

    É que sinceridade direta me incomoda. Mostrar a verdade já é duro o suficiente sem que eu tenho que ser obrigada à tirá-la de onde ela veio na frente de todos – ela se prende pra não sair e acaba vindo incompleta. Por isso eu aprendi a cobrí-la com uma história, e assim ela se solta mais. A verdade se mostra mais quando está coberta, é isso.

    Oh, quem é que eu estou enganando? É claro que tudo isso é apenas outra história!

    A verdade mesmo é que eu não tenho nada dentro de mim neste momento que consiga colocar algo para se mover.

Nesse post, eu simultaneamente dramatizo meu tédio absoluto causado pela suspensão das aulas e da greve de ônibus vivenciada na cidade, bato ponto no blog para não abandoná-lo, dou uma de escritora colunista de revista/jornal que escreve porra nenhuma só pra escrever alguma coisa pra edição da vez, e faço propaganda d’A Janela, o conto que está pro vir. O grande (em extensão – para os meus padrões, quer dizer, olha o comprimento desse post) conto que está por vir. Fiquem ligados beyjos.

O presente do hippie

    Ganhei hoje mesmo esse marcador de páginas em forma de flor de arame feita na hora por um hippie que estava sentado na  entrada principal da faculdade hoje (É hippie mesmo? Como mais você chama esses caras que vendem artesanato natural por aí?).

    Eram umas 17h e eu estava passando por lá porque é meu caminho de volta de todo dia, quando aparece esse cara e me chama e diz que quer me fazer uma pergunta rápida, e na hora eu pensei, e estou sendo honesta porque sei que um monte de gente no meu lugar pensaria o mesmo:  Ai, um hippie querendo me vender coisa. Mas aí, como ele foi educado, me deu vergonha de passar direto e lá fui eu conversar com o cara, dando logo a clássica desculpa de que sinto muito, mas tava sem tempo, tava com um pouco de pressa – Então ele perguntou meu nome, disse o nome dele, me perguntou o que eu estudava na Ufba e me contou que é do interior daqui da Bahia mas já andou pelo Nordeste todo e mais uns sete estados do país (Distrito Federal incluso, porque ele disse que gostava da Universidade de Brasília) e uns quatro países da América Latina, tudo isso enquanto mexia no arame e fazia essa florzinha, volta e meia me perguntando o que eu estava achando, e no fim das contas, quando eu finalmente o convenci de que estava com pressa, e a essa altura estava mesmo porque engarrafamento, ele me deu a florzinha em troca de algumas moedas que eu tinha na carteira.

  Ou seja, um hippie que gosta de conversar e demora demais apertando a mão dos outros me vendeu coisa hoje. Mas de um jeito legal que se tem de vender alguma coisa.

Uma vez uma colega minha no segundo ano do ensino médio ganhou um colar de um hippie também, mas no caso dela foi gratuito, eu lembro. Alguém tem uma história parecida com a minha?

Obs: Tirei a foto com esse filtro e no meu volume d’ O Pequeno Príncipe porque sou poser. Ok, era o livro mais ao alcance que eu tinha no momento. Mas não tenho justificativas para o filtro.