Homem saindo para o trabalho (Oi, feliz dia das Mães!)

Olá! Feliz dia das mães para as mães de todo mundo, inclusive as mães de bichinhos de estimação! Entregaram os presentes? Comeram bem? Agradeceram à mamãe? Bons meninos e meninas – e, se vocês são bons mesmo, vocês agradecem a suas mães todos os dias. Se você só dá valor a sua mãe num dia comercial você é um merda, sinto muito.

Enfim, hoje eu trago um conto. Que nem é um conto materno, é só pra atualizar o blog mesmo. Quer dizer, se eu for dar uma desculpa, eu digo que eu estou escrevendo uma história mais longa, que ainda não terminei, então estou publicando esse conto velho que fiz só pra atualizar o blog com algo útil.

A verdade é que minha mãe é tão não poética que suga toda minha criatividade. Nunca consegui escrever nada em homenagem à mamãe D:

Então, aqui vai um conto bem mais adequato ao dia dos pais, mas quer saber? o blog é meu e eu publico o que eu quero e foda-se, beijos:

Homem saindo para o trabalho.

Pai e filha param na frente de um quadro.
– Olhe para o homem desse quadro. Parece comigo, não é filha? Até a pasta dele é igual a minha.
– Suas pernas não são tão grandes. E você não tem um chapéu feio como esse, tem?
– Não. E eu nem reparei nesses detalhes, já tem tanta coisa estranha pra se notar nesse quadro. Reparei no céu. Está escuro ainda. Esse homem sai muito cedo de casa. Assim como eu.
– Tem um vulcão no quadro, pai! Ali no canto, ele está explodindo e ninguém dá a mínima! Que quadro louco!
– Entrando em erupção, você quer dizer. É mesmo. Que legal, não?
– Nem tanto. Aliás, eu não gostei tanto desse quadro, não. Ele é muito esquisito, essas pessoas imensas ficaram feias, desproporcionais.
– Mas eu acho que essa é que é a graça do quadro!
– Olhe o tamanho do bebê! Quer dizer, aquilo é um bebê?
– É, filha. Uma menina. Eu lembro que eu tentava fazer você usar uma touquinha dessas mas você sempre arrancava. Aí está outra coisa que eu e o homem do quadro temos em comum! Acho que achei o meu retrado pintado aqui!
– Com o vulcão e tudo? E o poodle?
– Que poodle? Oh, tem um poodle! Esqueça dele. Odeio poodles. E quanto ao vulcão, a gente pode dizer que ele é uma metáfora para representar… Os problemas do cotidiano? Que tal? Um vulcão explode todo dia, mas um homem de família sai para trabalhar mesmo assim.
– Entra em erupção, você quer dizer. E eu e a mamãe somos gordas assim?
– Imensas. Mais que as do quadro. Por mim, vocês seriam maiores do que a casa, inclusive.
– Que mau gosto!
– É que as pessoas são tão grandes quanto o amor que você tem por elas, filha.
A filha abraça o pai, e os dois passam para ver outro quadro.  

Fiz esse texto no ano passado quando fiz uma matéria chamada Criação Literária. O tema da vez era escrever sobre um quadro de algum dos livros que o professor distibruiu na sala, e eu acabei colocando as mãos num livro do artista Fernando Botero, e esse quadro se chama, assim como o conto, Homem saindo para o trabalho. Que tal o quadro? Que tal o texto? 

Enfim, leiam, deixem comentários, e por agora, adeus (fiz um verdadeiro book fotográfico do meu gato hoje, vou postar tudo no facebook, bye)! 


Obs: Como vocês devem ter notado, agora eu divido os contos/poemas dos posts com uma florzinha. E tentei acrescentar um divisor de posts no layout do blog mas não funcionou. Amo acrescentar coisas nos layouts dos blogs. 


Obs: Todo mundo aqui repara que eu respondo os comentários dos posts anteriores?

Carta aberta

Hoje eu trago um texto não totalmente improvisado para publicar!

Essa carta é o resultado de um exercício que eu tive que fazer essa semana para uma matéria da faculdade (eu faço Letras e algumas vezes meu dever de casa é escrever histórias. Eu sei que a tentação é forte mas não me inveje porque ter que submeter uma história à avaliação de professores nem sempre amigáveis é assustador): o assunto era o romance epistolar – livros cuja narrativa é toda feita pelas cartas dos personagens, e nós alunos tivemos que selecionar um colega de classe e elaborar uma carta destinada a esse colega relatando um acontecimento. A professora até deu um tema sugerido mas ele era deprimente e eu não o utilizei.

Eis a minha cartaヽ(゚∀゚ )ノ :

À João

Salvador, Bahia

25 de Abril de 2012

João, eu acabo de passar por uma situação terrível. Não para mim, não se preocupe comigo, estou bem. Digo que é terrível porque acabei de presenciar o “descobrimento” de um cadáver. Com que outra palavra a gente descreve uma coisa dessas?

Pensei em contar para você em especial porque me lembro de uma situação parecida que você disse ter passado: Foi você que contou um dia que estava dirigindo por um lugar, de volta da praia, ou a caminho desta, não lembro, e pensou “esse lugar parece um ponto de desova de cadáveres”, e um tempo depois soube que acharam um corpo bem naquele lugar? Foi quase isso que aconteceu comigo! E se surgir a dúvida, saiba que eu estou escrevendo porque preciso falar sobre isso agora e você não atende o telefone!

Vamos aos fatos:

Encontraram um corpo de uma mulher já meio decomposto no grande terreno baldio que tem no meio do caminho entre a minha casa e a padaria, hoje de tarde. E foi tudo muito rápido: Eu vi uns meninos pulando o portão que separa o terreno – falarei mais de como ele é mais tarde – da rua enquanto ia comprar o pão, e isso não é nada demais, acontece de vez em quando. Mas quando eu estava lá dentro da padaria é que começou uma gritaria vinda da rua, e como esse tipo de notícia se espalha de imediato, logo todo mundo sabia, e a padaria inteira ficou em choque por um momento (até eu) e depois o mercado se encheu com o burburinho de várias falas ao mesmo tempo. Vi uma turma, inclusive, deixando as compras numa prateleira e saindo para espiar. Confesso que na hora o que eu pensei foi: “ai, minha volta pra casa”.

Continuei as compras, paguei tudo e saí. Foi o tempo necessário para o caos ter se instalado na rua. Já tinha um engarrafamento em formação, já que o aglomerado de gente acabou tomando espaço da pista e, claro, porque todo mundo que passava diminuía a velocidade do carro, ou até parava mesmo, para descobrir o que estava havendo. Imagino a raiva dos que estavam bem atrás dos que pararam o carro. Falei do aglomerado de gente? Um inferno. Pelo menos aquele não era o horário do intervalo do colégio que tem bem em frente ao terreno – aí sim o lugar estaria impossível. Duvido que algum professor tenha conseguido continuar a aula nesse resto de tarde. Ainda bem que sou pequena e boa em me esgueirar entre os outros. Por incrível que pareça, o portão não estava superlotado! Pelo que eu consegui ver, o que não foi muito, era porque o corpo estava lá no fundo do terreno – logo, era para onde todo mundo ia. O carro do módulo policial que fica a alguns metros de distância do terreno já estava lá, tentando separar o corpo dos curiosos. Vi pelas luzes. Mas isso é tudo que posso lhe dizer de primeira mão, porque o lugar estava impossível, eu já disse, então acho que não fiquei nem um minuto parada ali. Voltei para casa logo. Me senti um peixe nadando contra a correnteza naquele resto de caminhada, devo ter sido a única andando na direção contrária. É uma sensação ruim, você andar no meio de um alvoroço desses. Parece que você perde o senso de direção, ou pelo menos é o que acontece comigo sempre que estou cercada de muita gente. Quando cheguei, ainda contei aos porteiros do prédio tudo o que tinha visto, o que também fiz neste parágrafo, e descobri que um deles, o que estava no intervalo, foi averiguar. Acho que, naquela altura, o bairro inteiro já sabia do ocorrido – e o bairro inteiro estava dando um jeito de sair e olhar.

Lembrei do meu cachorro. Ou melhor, lembro dele agora, enquanto reviso tudo na minha cabeça. É que se ele ainda estivesse vivo eu estaria com ele no momento, a ida à padaria era o passeio da tarde que eu fazia com ele, e ele teria ficado apavorado com toda aquela gente, covarde do jeito que ele era. Ainda pensando em animais, foi interessante, irônico até, chegar em casa e encontrar o gato do mesmo jeito de sempre: gordo e se espreguiçando na poltrona de sempre, como se nada acontecesse na vida. Sinto que ainda não consegui compreender toda a situação. Ainda não caiu a ficha, eu diria, de que acharam um cadáver a poucos metros de mim!

O que mais tenho para falar? Preciso dizer algo mais, ou eu me perco em exclamações e ponderações que não levam a nada. Oh, o terreno! Eu acho que ele é propriedade de uma das Igrejas que existem por aqui, já que é onde ocorre a feira da paróquia todo ano, aquela chatíssima feira da paróquia. Ele é imenso e, quando não há feira, abandonado na maior parte do tempo. É cercado por uns muros baixos, constantemente atacados por grafiteiros e tem um portão de grades que não serve de nada. Como eu já disse, volta e meia vejo uns garotos pulando o portão. A calçada na frente dele, também propriedade da Igreja, é cheia de buracos e grama que nunca foi cortada. E como ali tem mato. Alguns dos trechos que eu vejo através do portão quando passo por ali devem chegar à altura de minha cintura. Confesso que já pensei, e mais de uma vez, que ali dentro deve ter e acontecer de tudo – até mesmo depósito de cadáveres. Mas, pelo visto, a gente não pode mais pensar nessas coisas, não é mesmo?

Obrigada por ouvir minha história desde já.

Luiza.

Ps: Ainda bem que tenho preguiça de mandar as coisas imediatamente. Meu pai chegou em casa agora a pouco, e já falando do corpo. Ele andou conversando com os funcionários daqui do prédio antes de pegar o elevador, e aparentemente já estão se espalhando todo o tipo de boatos sobre o cadáver do terreno baldio. É uma mulher, a essa altura todo mundo já sabe, porque a polícia confirmou. Por isso que já comecei a carta falando de uma mulher. Mas o resto, só quando (e se) o pessoal da necropsia resolver liberar mais informações. Enquanto isso, já se ouviu falar que a morta não tinha uma perna, ou que cortaram a perna fora, e esse parece o boato mais forte até agora. Junto a esse, vem o que diz que a perna foi arrancada em função de algum ritual de magia negra. Será verdade? Não duvido que exista esse tipo de gente no mundo. O que mais muda, é claro, é a identidade da mulher. Nas últimas horas, ela já foi moradora de rua, estrangeira, filha de ricos e vítima de sequestro, índia… tem de tudo um pouco nessa história.

Imagino o que a mulher que faz a faxina daqui de casa chegará sabendo amanhã. Alguns meses atrás, ela me falou de uma história que circulava pelo bairro dela de um carro preto que sequestrava crianças, e abandonava os corpinhos delas abertos e sem os órgãos. Já devo ter te contado essa, eu suponho… Me sinto meio mórbida, mas essa do carro preto é uma história que me diverte mais do que deveria. E pior ainda, lembro que ela acreditava completamente nessa dos ladrões de órgãos no carro preto. Acho que se não tivesse acontecido tão perto, a história da morta no terreno da Igreja teria me divertido também.

Tã-dan +。:.゚ヽ(*´ω`)ノ゚.:。+゚
Acharam legal? A minha amiga Zoe, que fez a revisão do texto pra mim, achou meio solto e sem graça a menos que servisse de prévia pra alguma história mais longa… Só que não, hahaha. Ou sim. Eu pretendo usar alguns elementos que coloquei aí em textos futuros, mas outros textos são para outros posts.

Obs: nem perguntei a João se ele ia se importar se eu publicasse a carta com o nome dele ou não. E nem agradeci por ele ser o colega escolhido…

(João você se importa se eu não mudar seu nome antes de publicar a carta no blog? Obrigada por ser meu colega escolhido! (・∀・))